O Desafio da Aderência das Marcas CPG às Retail Media Networks no Brasil: Diagnóstico e Caminhos Técnicos

À medida que o Retail Media se consolida como o terceiro grande pilar da publicidade digital — ao lado de search e social — as marcas CPG (Consumer Packaged Goods) enfrentam a pressão de integrar esse canal emergente em suas estratégias. Porém, apesar do apelo do acesso direto ao shopper no ponto de decisão, a adoção plena ainda esbarra em barreiras operacionais, técnicas e culturais, sobretudo no contexto brasileiro.

Este artigo técnico apresenta uma matriz estruturada de dores e soluções para destravar a participação efetiva das 30 maiores marcas CPG no ecossistema de Retail Media no Brasil. A análise considera práticas locais, comparativos internacionais e a experiência de integração com RMNs como Magalu Ads, Mercado Ads, Amazon DSP, Carrefour (Unlimitail), GPA, entre outros.

Diagnóstico: Maturidade Técnica e Cultural

A principal barreira identificada não é apenas tecnológica, mas estrutural e organizacional. As marcas mais avançadas em Retail Media criaram núcleos internos multidisciplinares, unificando trade marketing, marketing, mídia e inteligência comercial, e delegando a gestão de RMN como um canal estratégico proprietário.

Ao mesmo tempo, do lado dos varejistas, há um movimento claro de evolução das RMNs rumo a plataformas mais self-service, orientadas por dados, com API de medição e KPIs alinhados ao ROI do anunciante — ainda que em estágio inicial no Brasil.

Este artigo é parte de uma série técnica do Retail Media News dedicada a acelerar a maturidade do ecossistema brasileiro de publicidade no varejo. Abordaremos todas as soluções técnicas, estratégicas e culturais no RETAIL MEDIA EXCHANGE, que será realizado nos dias 17 e 18 de setembro no ESPAÇO APAS em São Paulo.

Neste artigo, só abordaremos a descrição da matriz de desafios, sem abordar as melhores práticas e recomendações de cada solução estratégica. Voces terão toda essa abordagem no próprio evento:

Matriz de Desafios

1. Falta de padronização entre varejistas: Cada varejista tem uma stack de mídia diferente, métricas e formatos próprios

2. Dificuldade de mensuração clara do ROI: RMNs muitas vezes não oferecem dados claros ou confiáveis de retorno.

3. Falta de transparência nos dados de shopper: Dados de consumidor não são acessíveis às marcas ou são mal estruturados.

4. Alto custo de entrada com ROI incerto: Investimentos mínimos elevados sem garantias de performance.

5. Capacidade operacional limitada nas marcas (time pequeno de mídia RMN): Falta de estrutura interna ou experiência para operar várias RMNs.

6. Conflito com estratégias de mídia full-funnel e agências: Dificuldade de integrar campanhas táticas de RMN com branding e campanhas institucionais.

7. Excesso de campanhas isoladas sem visão de jornada: Ações fragmentadas que não constroem relação com shopper.

8. Desconexão entre time comercial e marketing da própria marca: Trade e MKT nem sempre estão alinhados sobre investimento em mídia nos varejistas.

9. Dificuldade em acessar categorias prioritárias dentro das RMNs: Espaços mais premium são oferecidos a poucos parceiros ou via negociação comercial.

10. Falta de benchmarks e cases locais de sucesso: Poucas referências públicas de campanhas bem-sucedidas no Brasil.

Caminhos Prioritários para Evolução

Vamos antecipar aqui os caminhos prioritários para evolução que reunem visão de longo prazo dos conselhos e diretorias dos varejistas, definição de cultura e processos transparentes, investimento em capacitação técnica, integração e inteligência de dados e visão da incrementalidade gerada por receitas de midia de varejo em suas operações:

  1. Acordos de longo prazo com RMNs líderes — negociando visibilidade, dados e performance conjunta.
  2. Construção de playbooks internos de Retail Media por categoria — com diretrizes de briefing, criação e medição.
  3. Investimento em capacitação técnica — de times comerciais e marketing sobre retail DSPs, atribuição e estratégia omnicanal.
  4. Integração com CRM e Dados First-Party — para ativar públicos próprios dentro dos varejistas.
  5. Medição incremental (vs. controle) de campanhas — para demonstrar impacto além do last-click.

As RMNs representam a oportunidade mais concreta de monetizar a presença digital dentro do varejo e capturar valor incremental junto ao consumidor. Para as marcas CPG, o sucesso dependerá menos da tecnologia em si e mais da capacidade de repensar processos, papéis e KPIs. A transição de “comprador de mídia” para “parceiro estratégico de canal” é inevitável — e urgente.

Matriz de Maturidade CPG em Retail Media: 4 Estágios Evolutivos

A maioria das marcas CPG brasileiras ainda opera com uma mentalidade pré-retail media, priorizando canais tradicionais e investindo pesadamente em social media, mesmo com ROI decrescente e controle limitado sobre o ponto de venda.

Descrevo uma tipologia em 4 estágios evolutivos das marcas CPG em relação à maturidade para ativar Retail Media (onsite, offsite, instore). Essa análise considera dimensões como liderança, cultura, estratégia, dados e integração com o varejo:

ESTÁGIONOMECARACTERÍSTICAS-CHAVEMENTALIDADE TÍPICA
1Desperto, mas PassivoMarca já ouviu falar de Retail Media, mas não entende como funciona, nem integra no planejamento anual.“RMN é mídia do varejo, não minha.”
2Explorador TáticoA marca realiza ativações pontuais, geralmente em campanhas de sell-out ou ações pontuais com varejo.“Uso Retail Media como empurrão de sell-in.”
3Integrado e Data-DrivenMarca já trata RMN como um canal de mídia, com planos dedicados, metas por canal e dashboards.“Retail Media é um canal proprietário, não apenas do varejista.”
4Orquestrador EstratégicoMarca opera Retail Media como parte de um ecossistema contínuo de aquisição, conversão e fidelização.“Retail Media é minha principal alavanca de ROI em mídia digital.”

Reflexão Estratégica

Das mais de 400 marcas CPG relevantes no Brasil, estimamos que +60% estão ainda no Estágio 1 (Desperto, mas Passivo); ~25% operam no Estágio 2 (Explorador Tático); menos de 10% atingiram o Estágio 3 (Integrado); e menos de 2% atuam de forma orquestrada no Estágio 4.

Esse atraso representa uma grande perda de eficiência e rentabilidade, já que Retail Media oferece ROAS até 3x superior ao de mídias sociais e programáticas, conforme benchmarks internacionais (Walmart, Kroger, Amazon, Target, etc.). Os GAPs estratégicos e as oportunidades de evolução de cada estágio de maturidade serão detalhados e discutidos na primeira edição da RETAIL MEDIA EXCHANGE, que será realizada nos dias 17 e 18 de agosto no ESPAÇO APAS, com a reunião de grandes especialistas que planejam e executam Retail Media todos os dias, avaliando critérios de planejamento de campanhas, estratégias de mensuração, requisitos de atribuição de campanhas, padrões de métricas e indicadores, grau de eficácia das campanhas, etc.

Retail Media não é mais uma “tática do varejo”. É a nova infraestrutura da publicidade de bens de consumo. A marca que continuar tratando esse canal como periférico perderá vantagem competitiva, margem e relevância no ponto de venda — físico ou digital, precisa entender que a incrementalidade só acontece quando a visão é full funnel, deixar de ser fragmentada e sem sincronia para mellhor impacto na jornada do shopper.

Ricardo Vieira
Ricardo Vieirahttp://www.digitalstoremedia.com.br
Ricardo Vieira atua em diferentes canais e segmentos há 30 anos no varejo brasileiro, é fundador da ABRAMEDIA e da DIGITAL STORE MEDIA, criado para fomentar todo ecossistema de Retail Media no mercado brasileiro, também dirige o Clube do Varejo, criado em 2019 para desenvolver pequenos varejistas. Ele também fundou e preside o Instituto Nacional do Varejo (INV), promovendo a indústria varejista desde 2017 com soluções inovadoras. Desde 2006, é sócio-diretor da TRADIUM, focada em soluções tecnológicas! Criou o Retail Media Academy, Retail Media News e Retail Media Show para fomentar a excelência em mídia e varejo. Com expertise em inteligência de vendas, trade marketing, CRM e fidelidade, Ricardo lidera projetos de inteligência para indústria e varejo. Sua trajetória inclui papéis significativos como VP de Sustentabilidade na ABRALOG e Coordenador Regional de Projetos na Ambev.

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