Construindo confiança do shopper em meio à fragmentação: lições do Report da Ascendant para o Brasil

O estudo “The New Content Mandate: Building Shopper Trust in a Fragmented Retail Media Landscape”, da Ascendant Network em parceria com a Inmar Intelligence, traz uma provocação essencial: as Retail Media Networks (RMNs) precisam evoluir de plataformas de mídia para mecanismos de conteúdo capazes de gerar confiança e valor real para o shopper.

Essa reflexão é especialmente relevante para o Brasil, onde a expansão das RMNs ainda convive com fragmentação operacional, excesso de foco em verbas de trade e baixa integração de canais. A seguir, avaliamos os quatro insights-chave do estudo e como eles se conectam ao cenário brasileiro.

Insight 1: Ir além do banner – conteúdo conectado em todos os touchpoints

O report aponta que a fragmentação de conteúdo, gerada por silos internos, modelos de colaboração inconsistentes e uso de assets reaproveitados, resulta em experiências desarticuladas.

No Brasil: Muitos varejistas ainda operam com campanhas isoladas entre onsite, instore e offsite. É comum vermos promoções no aplicativo sem conexão com ativações de loja física, ou anúncios programáticos sem vínculo com narrativas de categoria. Essa desconexão mina a confiança do shopper.

O caminho: construir estratégias omnichannel reais, com conteúdo planejado para cada jornada e touchpoint, exige integração entre trade, CRM e mídia digital, além de acordos mais colaborativos com a indústria.

Insight 2: Estratégia de conteúdo para todo o funil

O estudo reforça que RMNs precisam ir além de mensagens focadas em preço e promoção. Gen Z e Gen Alpha esperam experiências inspiracionais, educativas e de entretenimento em vídeo, social e pontos físicos.

No Brasil: Grande parte das RMNs brasileiras ainda prioriza inventário promocional — banners, search e pushs de desconto. A ausência de narrativas autênticas limita a capacidade de construir equity de marca dentro do ecossistema varejista.

O caminho: adotar storytelling full funnel, guias práticos para descoberta, conteúdos educativos para consideração e experiências imersivas (como ativações instore com creators) para fidelização. Isso desloca a RMN da função de “vitrine promocional” para plataforma de valor contínuo.

Insight 3: Mensuração além de ROAS e incrementalidade

O report mostra que, embora incrementality e ROAS sejam métricas essenciais, eles não capturam toda a experiência do shopper. As marcas querem granularidade — entender não apenas se venderam mais, mas por que venderam!

No Brasil: Ainda predomina a mensuração centrada em sell-out. Poucos varejistas conseguem oferecer relatórios robustos de brand lift, share of wallet ou lifetime value. Essa lacuna trava a confiança da indústria (marcas anunciantes) no potencial estratégico das RMNs.

O caminho: evoluir para modelos de mensuração baseados em closed-loop data, unindo comportamento de compra, navegação digital e engajamento com conteúdo. A experimentação ágil deve guiar o desenvolvimento de novos formatos de atribuição.

Insight 4: Conteúdo de creators como alavanca de autenticidade

O estudo destaca que consumidores — especialmente os mais jovens — confiam mais em creators do que em anúncios tradicionais. RMNs devem integrar conteúdo de influenciadores de forma estruturada, brand-safe e omnichannel

No Brasil: O uso de creators em Retail Media ainda é incipiente e, quando existe, é pouco integrado à jornada de compra. Geralmente são ações de awareness descoladas do ecossistema de dados do varejo.

O caminho: as RMNs brasileiras precisam se posicionar como orquestradoras da creator economy, conectando influenciadores a dados proprietários e a narrativas de categoria. Isso significa unir autenticidade + relevância + mensuração, criando confiança no ponto onde o shopper decide comprar.

Próximos passos para as RMNs brasileiras

O report sugere cinco pilares de transformação:

  • Planejamento integrado — times de mídia, trade e marketing de shopper alinhados desde o início.
  • Frameworks flexíveis de conteúdo — adaptáveis a canais, categorias e regionalizações.
  • Investimento estratégico em conteúdo — tratar conteúdo como ativo central de crescimento.
  • Mensuração ampliada — ir além do ROI imediato, incluindo engajamento e lealdade.
  • Experimentação contínua — testar novos formatos, creators e integrações omnichannel.

No Brasil, onde a fragmentação ainda é evidente e muitas RMNs se limitam à venda de inventário promocional, a mensagem é clara: o futuro está na construção de confiança via conteúdo autêntico, omnichannel e mensurável. As RMNs que se moverem rapidamente nessa direção não apenas capturarão mais verbas da indústria, mas se consolidarão como plataformas estratégicas de shopper experience, muito além da publicidade.

Ricardo Vieira
Ricardo Vieirahttp://www.digitalstoremedia.com.br
Ricardo Vieira atua em diferentes canais e segmentos há 30 anos no varejo brasileiro, é fundador da ABRAMEDIA e da DIGITAL STORE MEDIA, criado para fomentar todo ecossistema de Retail Media no mercado brasileiro, também dirige o Clube do Varejo, criado em 2019 para desenvolver pequenos varejistas. Ele também fundou e preside o Instituto Nacional do Varejo (INV), promovendo a indústria varejista desde 2017 com soluções inovadoras. Desde 2006, é sócio-diretor da TRADIUM, focada em soluções tecnológicas! Criou o Retail Media Academy, Retail Media News e Retail Media Show para fomentar a excelência em mídia e varejo. Com expertise em inteligência de vendas, trade marketing, CRM e fidelidade, Ricardo lidera projetos de inteligência para indústria e varejo. Sua trajetória inclui papéis significativos como VP de Sustentabilidade na ABRALOG e Coordenador Regional de Projetos na Ambev.

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