O discurso de “personalização” em Retail Media já não sustenta vantagem competitiva por si só. Shopper data, segmentação por clusters e recomendações automatizadas por IA e Deep Learning estão virando commodities. O desafio agora é ir além da venda estática de venda de inventário e do binômio preço e da promoção, traduzindo o real contexto da missão de compra em narrativas relevantes e inteligentes por categoria. O futuro do Retail Media depende da capacidade de reorquestrar a jornada do shopper em múltiplos pontos de contato (onsite e instore), transformando-a em conteúdo criativo que entrega valor — e não apenas ativação promocional focada em conversão.
A seguir, cito aqui os 10 grandes desafios para que marcas e varejistas realmente entreguem personalização em escala com mais inteligência capturada na jornada e na categoria para cada campanha:
Reconstruir a jornada por missão de compra: Personalizar campanhas exige abandonar a lógica de cluster genérico e demográfico (“feminino 25–35”) de mídia programática para adotar missões de compra reais: reposição, indulgência, conveniência, abastecimento. Sem esse mapeamento, toda a inteligência de mídia fica rasa para primeira entrega em cada persona mais robusta.
Conectar inteligência de categoria ao Retail Media: Gerenciar campanhas com a mesma ótica de category management: papel da categoria no sortimento, elasticidade de preço, complementariedade e substituibilidade. Só assim o Retail Media deixa de ser espaço publicitário e vira motor estratégico de sell-out qualificado, entregando conteudo para jornada de cada perfil de shopper, clusterizado em seu CRM.
Quebrar o vício do push de promoção: O shopper já é bombardeado por promoções em loja, app e site. Personalizar é substituir promo por conteúdo inteligente: inspiração, uso cruzado, storytelling da categoria. A personalização só acontece quando a comunicação foge da lógica rasa do desconto.
Construir um mapa omnichannel dos pontos de contato: A jornada não é linear, é múltipla e dinâmica. É preciso identificar touchpoints críticos (search, prateleira física, push no app, telas instore, mídia offsite) e desenhar campanhas coerentes entre eles. Sem essa visão única, a personalização se perde na fragmentação.
Evoluir para modelos de monetização baseados em jornada: Hoje a monetização do Retail Media ainda se ancora no inventário: quantas impressões, quantos slots, quantos CTRs, quantas conversões, etc. O desafio é criar modelos básicos e práticos que precificam impacto por fase da jornada: awareness, consideração, conversão e fidelização.
Orquestrar criatividade contextual: Campanhas personalizadas não podem ser apenas banner dinâmico. É preciso criação adaptada à jornada e à categoria: vídeos curtos, conteúdo educativo, experiências sensoriais instore. Criatividade passa a ser ativo estratégico de monetização.
Unificar dados de Search, GCat, CRM, Retail Media, Ecommerce e Trade, etc.: A personalização exige que varejistas quebrem silos: integrar CRM, histórico transacional, dados de navegação onsite e métricas de trade marketing. Só assim é possível entender o shopper como indivíduo e como missão de compra. Buscar implantação de CDP é essencial para operação!!
Medir incrementalidade por missão: A métrica-chave não pode ser apenas iROAS (incremental). É necessário mensurar incremento líquido em cada missão de compra e categoria. O desafio é construir metodologias robustas que sustentem a defesa perante CFOs e CMOs.
Redefinir o papel de instore media: O ponto físico é o lugar onde a personalização pode ser tangível. Mas instore media ainda está presa em telas com looping de promoções. O desafio é conectar conteúdo, jornada e contexto de categoria — personalizando a experiência dentro da loja.
Criar uma governança colaborativa entre indústria e varejo: personalização só acontece quando marcas e varejistas compartilham dados e visão de categoria. O desafio é vencer a barreira de confiança e construir modelos de governança conjunta que priorizem shopper experience em vez da simples venda de mídia.
Do inventário para enriquecimento da experiência
O varejo que continuar tratando Retail Media apenas como “inventário publicitário” ficará preso na lógica de vendas de espapos, binomio de preço e promoção focado em sell-out, sem geração de conteúdo criativo que explore o potencial da categoria, cesta e missão de compra. O próximo salto competitivo está em personalizar com base em missões de compra e inteligência de categoria, desenhando jornadas criativas e monetizáveis. Retail Media só será realmente sustentável se for mais do que mídia: precisa ser ferramenta de shopper experience — capaz de entregar ao shopper total relevância, ao varejista valor incremental, e à indústria, brand equity e sell-out incremental.