O Retail Media deixou de ser apenas um buzzword e já se consolidou como a terceira onda do digital, depois de search e social. Mas no Brasil e na América Latina, o desafio não é só acompanhar esse movimento global: é construir um ecossistema integrado e competitivo capaz de capturar o enorme potencial de investimentos de marcas, agências, adtechs, midia digital e trade marketing.
É nesse contexto que a Retail Media News estreia uma série de entrevistas exclusivas com lideranças que estão moldando o futuro do setor. Nesta edição, conversamos com Regina Ye, CEO e cofundadora da Topsort, uma das plataformas globais que mais cresce no segmento.
Provocamos Regina a comentar como o Brasil se tornou o “hub” da operação, movimentando bilhões em GMV, e a explicar por que a fragmentação e a falta de padronização na mensuração são os gargalos centrais que ainda travam a expansão do mercado. Sua visão vai além da simples compra de mídia: ela defende que os varejistas precisam encarar o Retail Media como centro de lucro e inteligência estratégica, com independência tecnológica, integração omnichannel e uso intensivo de IA.
O tom é claro: o jogo está só começando, e quem continuar enxergando o Retail Media apenas como promoção ou sell-out corre o risco de ficar muito para trás.
Estratégias LATAM e Primeiros Passos
Pergunta: Regina, qual a prioridade estratégica da Topsort ao estruturar sua Rede de Anúncios na América Latina? Onde você vê as maiores oportunidades neste mercado em comparação com os EUA e a Europa?
Regina Ye: A prioridade da Topsort na América Latina, especialmente no Brasil, é consolidar um ecossistema integrado entre anunciantes, varejistas e agências, elevando o retail media regional a um patamar global de sofisticação. Hoje, já atendemos cerca de 80% dos grandes varejistas da região e movimentamos mais de US$ 100 bilhões em GMV.
O Brasil se destaca como uma das maiores oportunidades globais, dentro de um mercado latino-americano em rápida expansão, com projeção de crescimento de aproximadamente US$ 1,6 bilhão em 2023 para US$ 3,1 bilhões até 2027, refletindo um CAGR de cerca de 28%. Esse crescimento é impulsionado pela maturidade digital dos varejistas e por um ambiente cada vez mais favorável à inovação.
Dos mais de US$ 30 milhões levantados globalmente, US$ 12 milhões vieram de investidores brasileiros, solidificando o país como um dos principais hubs da Topsort. Com uma equipe dedicada e soluções abrangentes – onsite, off-site e in-store, integradas com plataformas como Google e Meta –, estamos preparados para liderar essa transformação e posicionar a região como referência mundial em retail media
Fragmentação e Padronização
Pergunta: Um dos maiores desafios do ecossistema de Retail Media é a falta de padrões de mensuração e metodologias de incremento. Como a Topsort pretende endereçar essa questão na LATAM?
Regina Ye: A fragmentação e a falta de padronização são desafios significativos para o crescimento do retail media. A resposta da Topsort é a Toppie, nossa rede unificada de anúncios que conecta múltiplos varejistas em uma única plataforma.
Com a Toppie, marcas e agências podem comprar mídia de forma centralizada e veicular campanhas em diversos varejistas com praticamente ‘um clique’. Isso simplifica a gestão, oferece relatórios harmonizados e rastreamento de atribuição de ponta a ponta, eliminando incertezas sobre o impacto real de cada anúncio. Na prática, gera maior eficiência e escala para os anunciantes e demanda qualificada para os varejistas.
Funil Completo e ROI Real
Pergunta: Muitos varejistas ainda restringem o Retail Media a “queimas de estoque” e promoções em telas. Como você vê o caminho para evoluir para um modelo de funil completo, com indicadores claros de ROI e incrementalidade?
Regina Ye: A evolução para um modelo de funil completo é inevitável e acelerada pela tecnologia. É preciso ir além do ROAS imediato e considerar o valor real da jornada de compra, incluindo a loja física como ativo de mídia. Isso permite identificar verdadeiros ‘brand lovers’ e mensurar a incrementalidade com maior precisão.
Nossa plataforma de retail media elimina os ajustes manuais de lances e otimiza as campanhas em tempo real para alcançar o ROAS desejado. Assim, as marcas podem focar em estratégias de construção de marca e relacionamento, enquanto a performance de vendas é gerenciada de forma inteligente. Desenvolvemos soluções impulsionadas por inteligência artificial e, como resultado, vimos nossos clientes alcançarem até 5,5x mais ROAS em comparação com campanhas manuais, comprovando a eficiência do nosso modelo de funil completo.
Integração Tecnológica e Independência Varejista
Pergunta: Em sua visão, qual o papel de plataformas como a Topsort em dar aos varejistas independência de grandes empresas de tecnologia, oferecendo veiculação de anúncios, dinâmica de leilão e gerenciamento de dados transparentes?
Regina Ye: A Topsort é uma empresa de infraestrutura de retail media baseada em leilões e impulsionada por IA, que traz as melhores estratégias de monetização do Vale do Silício para varejistas e marketplaces em todo o mundo. Nossa abordagem “AI-first” e “API-first” permite que os varejistas lancem suas próprias plataformas de retail media com controle total.
Nossa plataforma de retail media é impulsionada por IA, baseada em leilões e construída com integração API-first. Isso oferece a varejistas e marketplaces uma solução escalável e segura para monetizar seus canais digitais de forma autônoma, sem a necessidade de construir estruturas complexas do zero. Além disso, a plataforma é cookieless e utiliza first-party data e clean rooms, garantindo a conformidade com a privacidade e proporcionando uma base segura para o futuro do retail media.
Futuro e Disrupção
Pergunta: Olhando para os próximos 3 anos, quais serão os grandes “game changers” para o Retail Media na América Latina? Estamos falando de IA, programmatic retail media, unificação on/off ou novos modelos de monetização da jornada?
Regina Ye: Nos próximos três anos, o retail media na América Latina será impulsionado por três grandes motores de mudança. O primeiro é a Inteligência Artificial, que lidera a automação de lances, a personalização e a análise de dados, gerando resultados exponenciais em eficiência e performance. O segundo é a unificação de canais – o omnichannel que conecta anúncios digitais às experiências de compra presenciais, incluindo a monetização de espaços físicos com telas digitais, especialmente no setor de alimentos. O terceiro é a unificação de redes de anúncios por meio de plataformas como o Toppie, que resolvem a fragmentação, simplificam a compra de mídia e atraem novos orçamentos para os varejistas. Formatos como o vídeo se destacam como os segmentos de crescimento mais rápido e mais lucrativos, fortalecendo um ecossistema mais eficiente e integrado.
Pergunta: Se você tivesse que dar uma única recomendação a CMOs e heads de trade que ainda veem o Retail Media apenas como mídia promocional, qual seria?
Regina Ye: Minha recomendação é simples: pare de ver o Retail Media apenas como um custo e comece a encará-lo como um centro de lucro e uma fonte de inteligência de negócios.
Vá além do ‘sell-out’ imediato. Quando bem executado com a tecnologia certa, o Retail Media é uma ferramenta estratégica para construir marcas, aprofundar o relacionamento com os clientes – inclusive no ambiente físico, via experiências omnichannel – e gerar incrementalidade real e mensurável a longo prazo.
Trata-se de posicionar sua marca onde a decisão de compra acontece, utilizando dados de first-party que nenhum outro canal oferece para otimizar toda a jornada do cliente. Quem não abraçar essa visão integrada e estratégica corre o sério risco de ficar para trás em um mercado que está evoluindo exponencialmente.
